sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Gosto muito de te ver, leão.


       Estática, emudecida. Os dentes afiados do leão me fazem lembrar sangue. O rugido, guerra. O treinador entra na cela, aparentando tranquilidade. Suas pernas não tremem, parece não haver suor mesmo embaixo daquele Sol de verão. Tudo em mim parece paralisado (a sensação é de que o domador será comido vivo) menos  meu coração, que bate forte, bombeando sangue quente, quente do Sol e de expectativa. O Rei da Floresta ruge para intimidar qualquer ser animado que chegue perto. O domador mantém o olhar fixo nos olhos do desafiador, mostrando coragem. Na troca de olhares, respeito e confiança também são trocados. Frente a frente, finda o duelo – o leão se aproxima, abaixando a cabeça – o domador faz carinho, e lhe entrega um pedaço enorme de carne.
       Daí deve ter vindo essa minha inspiração para enfrentar o perigo, o medo. O leão não representa perigo... Perigosa são as ideias que nos passam sobre eles. Malvados, impiedosos, famintos, agressivos. São animais, assim como nós! Não posso falar sobre uma mente que não entendo, não domino. Portanto não posso interpretar nenhum outro animal, seja de minhas espécie ou não. Mas falo por mim em meus diferentes momentos, ou em minhas diferentes relações: mentes doentes, malvadas, impiedosas, agressivas. Variam em sua intensidade, mas todas são. 
        Domei o leão. Domei meu medo, minha insegurança. Agora somos próximos, nos conhecemos. Temos confiança um noutro. Sabemos que o que é falado sobre ele, leão, são palavras vazias. Ninguém ataca ninguém em situações de calmaria. Se o ataque acontece, é porque existe algum desequilíbrio. Estamos, nós dois, em calmaria. Em conhecimento. Em encantamento.
        Temos é que domar vocês. A relação de domador não está em amansar, domesticar o animal. Está em subjugar o que lhes é imposto (humanos) como verdadeiro. E vamos, eu e meu leão,  domando um a um, pouco a pouco. Rompendo com tabus, abrindo corações. Libertando corações de medo, de inseguranças e encorajando. São enfrentamentos que assim como o que contei no primeiro parágrafo, muitas vezes remetem aqueles que estão assistindo sangue, guerra... Mas a cada pessoa domada, um coração liberto.
       Segundo o dicionário, domar: (lat domare) vtd 1 Amansar, domesticar: Domar um potro. vtd 2 Dominar, subjugar, vencer: Os romanos domaram povos bárbaros. vtd 3 Refrear, reprimir (paixões). vpr 4 Conter-se, dominar-se.¹
        Eu sei que refrear, reprimir, conter-se,  não parecem ações que representem liberdade. Mas eu digo que sim. Queremos domar os corações reprimidos. Domar seu medo, seu preconceito, sua insegurança. Quando dominamos tudo aquilo que nos limita e impõe verdades as quais nosso coração não compreende, estamos concedendo a ele sua carta de alforria. 

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¹http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=domar

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