domingo, 17 de dezembro de 2017

crise de ansiedade


tento escrever
mas só sai medo
tento desenhar
mas só sai medo
tento compor
mas só sai medo
medo de ter medo
medo da expectativa frustada
medo de não agradar e, por isso mesmo
medo de não ser agradada
medo


da fonte d'onde nascia poesia
da fonte d'onde bebia-se inspiração
que coisa, que agonia
agora brota depressão

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Desafio do vento: abservar! Brinquemos!!!

Faz tempo que tenho me atentado ao abservar a vida! Aos atentos e apegados aos erros gramaticais, que talvez já tenham franzido a sobrancelha na primeira frase deste pequeno desabafo, vamos lá!  Respire fundo e chegue junto. Estou a brincar com as palavras: abservar significa absorver ao observar.
É que tudo o que nos rodeia, nos permeia de algum modo. E é incrível como, regularmente, as impressões e experiências negativas nos causam tamanho impacto, anestesiando toda nossa corporalidade, nossos sentidos e nossa disposição para qualquer outra coisa que se apresente. E além do referido efeito anestésico, também o efeito papagaio: basta qualquer coisa sair de dentro do planejado, basta algo ruim nos acontecer, que pensamos na maldita experiência 4323 vezes no dia. Quando não ficamos repetindo para todas as pessoas em nosso redor, a fim de justificar nosso estresse naquele dia, nosso mal-humor, a falta de sensibilidade, dentre outros tantos elementos que todos nós sabemos bem!
Pois foi aí que o vento veio, ligeiramente, e começou a soprar em meu ouvido num tom bem desafiador: "vocês, adultos, são profundamente miseráveis! são lobos que só tem olhos grandes para o que querem ver, só tem ouvidos para o que querem ouvir e, no final, querem mesmo é comer criancinhas!"
A princípio, não entendi bem. Que terrível pensar assim! Eu jamais pensei em comer criancinhas! E poxa, eu, miserável?! Eu que busco, diariamente, construir um mundo melhor?
Foi então que passei a observar a mim e aos adultos que me rodeiam, e sem delongas, compreendi!
Nós, adultos, ao nos deixarmos ser anestesiados e agirmos feito papagaios frente as dificuldades e negatividades da vida, alimentamos este lobo faminto que existe dentro de nós. Matamos nossa criança interior que, se saudável e em liberdade, certamente muito nos ensinaria sobre resiliência e superação. Enquanto professora, tenho o privilégio de acompanhar de perto a essência que rege a criança em seu desenvolvimento: a vontade de brincar e brincar em qualquer circunstância; o desejo inato pelo que é belo e, por fim, o que se tem de mais fantástico nas crianças: a inigualável habilidade de deixarem o que não compete ao brincar e ao belo fluir para bem longe de suas vidas!
Como esta reflexão toda fez muito sentido na minha vida e me ajudou a desembaçar as lentes de meu óculos, e limpar a cera de meu ouvido, preciso exemplificar pra deixar assim, o mais claro possível pra quem esteja lendo:observem uma criança bem novinha, por volta dos 3, 4 anos de idade, brincando com os amiguinhos num parque. Se de repente alguma se machuca, abre-se o berreiro. Mas aquele choro, logo que acolhido e vivido, rapidamente passa. A criança parece se esquecer de tal machucado e pronto, já volta para a brincadeira, lembrando-se dele em raros momentos nos dias que correrão junto dele.
Outro exemplo muito comum na escola são os momentos de conflito pessoal. Um amigo que chateia o outro, aquele que por ventura deixa escapulir um empurrão e a outra colega cai! Sim, claro que são momentos delicados e inTensos. Mas vivido o conflito, e as vezes tão ligeiro quanto nós adultos não conseguimos mais acompanhar, já estão lá, brincando novamente, com se nada tivesse acontecido.
E assim as crianças vivem num pleno estado de brincadeira e recomposição. E é isso que sinto minha alma implorando: alimentemos nossa criança interior! Já são muitos que deram ao lobo sua criança interior e, com efeito, vemos para todo lado adultos cansados, insatisfeitos, reclamões, anestesiados...
E depois de alinhavar todos estes pensamentos, eis que o vento volta a sussurar no meu ouvido: "muito bem, muito bem! é chegada a hora de abservar! o desafio está dado: diariamente, escolher uma bela observação para absorver e compartilhar".
Desafio dado, desafio aceito: em primeiro lugar, é preciso negar a anestesia do que é negativo, pois que anestesiados, deixamos de perceber o que o mundo nos apresenta. Para isso, pequenas doses de observação do que permeia o belo e o bom. Precisamos nos obrigar a encontrar e compartilhar o que de bom, belo, gostoso nos é apresentado durante o dia.
No começo achei estranho. Parecia assim, bobagem. Tive medo, me questionei "ah, mas isso é, de fato, muita infantilidade". Como se infatilidade significasse imaturidade. Como se as crianças, nos exemplos mencionados aqui atrás, não nos dessem um grande show de maturidade, comparado nossa incrível maestria em ficar reclamando, lamentando, se arrastando pelos dias.
Felizmente, a persistência é uma das minhas mais fortes qualidades. E nesta brincadeira, proposta pelo vento, provocada pelo tempo e provada pelos meus sentidos, senti-me transformAr. Tenho respirado moléculas de admiração e encantamento. E expirado gratidão e esperança. Na prática diária de observar o que se apresenta de bom e belo, o que no começo parecia difícil e vergonhoso, virou uma caderneta aérea: passeando por ai, descobri quanto tesouro e quanto alimento o Universo nos disponibiliza diariamente. E assim vou anotando, absorvendo. O papagaio também se alimenta e passa a repetir, agora num tom contagiante, todas as belezuras descobertas, levando o lobo a um profundo estado de sono e aos demais humanos viventes, o convite para entrarem nesta brincadeira e aceitarem o desafio.
E assim, me despeço. Saúdo a criança interior que existe dentro de cada um de vocês! Que vocês possam acordá-la afim de que elas os motivem a tal brincadeira! E que vocês possam compartilhar esta incrível experiência comigo e com o mundo!
Podemos trocar partilhas diariamente, semanalmente, mensalmente. O importante é, de vez em quantinho, e quando mais puder, estejamos acordados e despertos, sem qualquer efeito anestésico!

Sintam-se abraçados como me senti hoje, ao passar por uma árvore cheia de flores rosinhas, cujas flores pareciam pequenas rosas desabrochando, de cheiro tão doce, mas tão doce, que me fez lembrar chocolate! Não sei como se chama tal árvore (assim que descobrir, farei questão de compartilhar), mas por enquanto eu a apelidei de Arvonita Docerosa! A árvore mais bonita, doce e cheirosa da rua!





quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Agnes Herczeg

Esculturas em renda

http://divaholic.com.br/arte/as-esculturas-de-renda-de-agnes-herczeg/

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Dos diversos mundos

    Desde pequenininha é "olha que gracinha, como é serelepe" daqui, "nossa, mas que simpatia né! como conversa, como fala!" de lá, "nossa, mas como se entrosa bem essa menina, não?". É... uma criança bem fácil de lidar, bem amável, bem amante. Este encantamento das pessoas para comigo, no entanto, me parece reflexo do proporcional fascínio que tinha eu, pelo mundo.
    Verdades sejam ditas, apesar da facilidade do relacionamento, muito fui sentida como problema na escola. Imaginava de mais, criava de mais. Criava além dos momentos de desenho livre da aula de artes, ou do teatro. Se não podia ter algo que queria muito, em meu imaginário infantil tratava de fazer esse desejo tornar-se possível. Mas que perigo, que perigo! Isso não pode. Não pode inventar um mundo para ser feliz... há de se encontrar a felicidade dentro da realidade possível. Também não é muito bom ficar dando atenção pra essa história de amigo imaginário.
       "Que futuro esperamos de uma criança que inventa tanto?"  A minha reação diante das repreensões e questionamentos, sempre por parte da escola: confusão. Não entendia onde minha vida imaginária era tão prejudicial ou maléfica. Teríamos de ser felizes só dentro da realidade possível e nuclear? A tempo: de que realidade estamos falando? Aquela que só se conquista mediante dinheiro? Existem outras realidades possíveis?
       Mas minha mãe deixava, em casa sim, liberdade. Na escola aprendi que só podia falar sobre algumas coisas, e a duras custas em minha primeira década de vida sabia que era preciso agir pela convenção. Era preciso criar máscaras (e nem imaginava que teríamos um imenso depósito de máscaras ao longo da vida!). A sorte - e até mesmo o privilégio, ouso dizer - é que a minha casa era, em verdade, um planeta mágico. Era minha oca, e também meu reinado. Na minha casa, as máscaras ficavam na porta da rua e eu podia construir sim  minha realidade, inventando - com sabores e dissabores, alegrias e dores, aquilo que enquanto criança precisava para ser feliz.

    A medida que cresci, fui percebendo que essas coisas sempre aconteceriam: por um determinado momento, meu mundo interno era a igreja Protestante. Da mesma maneira, muitos me repreendiam - porque repreender não se faz apenas com palavras, se faz com olhares, com suspiros, com gestos - ou então, muitos não compreendiam. Nesta época, agora era na minha casa em que eu tive que aprender o que falar. Só poderia falar algumas coisas (não porque fui proibida, mas simplesmente por não me sentir compreendida). A igreja, a casa das amigas evangélicas, passaram a ser o refúgio dos pensamentos contidos.
   Tantas coisas mudam. Nunca me imaginei evangélica. Mas fui, e durante esse tempo, foi maravilhoso. Até hoje não consigo encontrar pontos que realmente me convençam de que tenha sido algo negativo. Mas como tudo muda, a gente amadurece. E assim foi... hoje não consigo me enxergar mais nessa doutrina.
   Mas lembrando, é o eterno ciclo: uma coisa vem, vai, outra aparece. E assim como os planetas giram em torno do Sol, nossos mundos vão girando em torno de nós. E vão encontrando lugares que possam ser compartilhados. Compartilhados? São tantos os viajantes! Será que alguém realmente já esteve só?

Desabafinho

Tu chegastes assim
de superfície
límpida, clara, transparente
Que nem me importei com o inverno
Não fazia calor
Nem tampouco a vontade de muito me movimentar
Estava em falta qualquer indício de que
em breve, eu me interessaria em mergulhos...
Mas chegastes assim
suavemente...
E queria eu não falar de estações
que difícil para mim essa coisa
de não falar da natureza
Mas sim, Marujo...
Quis mergulhar. Em pleno inverno
Quis lavar o corpo e a alma
quis nadar nesse mar de estrelinhas
que tanto brilham, quando meus olhos se fecham
Esporte novo...
Mal mergulhei, e um emerge um impulso a saltar
querer subir cada vez mais alto,
para saltar ora de cambalhotas, ora de braços abertos
Saltar assim, amiúde, mas cada vez mais junto
mais profundo...
Eu, que sempre fui dos esportes radicais,
raríssimas vezes temi o desafio!
E agora, por deveras, tenho de encarar
o medo que bate a porta, me ameaçando a capacidade
"que é você? que é que tem?"
Eu tenho coragem, tenho vontade...
Também gosto muito de cuidar da mãe Terra,
portanto, quero é poder cuidar desse lago tão límpido
que me presenteou tanta transformação
De mais, nunca de menos, tenho o que tenho: amor
E é isso!
Seja a nado livre, seja de barquinho,
ao som de ondas, tempestade ou violão
A vida, que muito estava me convidando a pensar
questionar, e repensar os rumos
Tem convidado novos passageiros,
Tem querido discutir as rotas
Não sei bem quais são os destinos
Mas sempre aprendi que as estrelas - aos iniciados,
aos que compreendem os sinais da Imensidão
sempre indicaram o caminho...
Descobrir em você, toda essa constelação
Me fez perder a pressa de me achar
Quem sabe são as tuas estrelas que indicarão o caminho...

E não é um poeminha, nem é um poemão!
É um desabafo mesmo, desses do coração
Que tava todo apertado, todo cheio de emoção
E com um cadinho de medo, tentando dar vazão



segunda-feira, 5 de junho de 2017

Trabalhar (se)


Destas coisas que são indescritíveis mas, de tanta profundidade, fazemos tanta questão em tentar compartilhar: Todas as manhãs, antes do lanche das crianças, fazemos uma roda rítmica que sempre termina com todos nós deitados, "dormindo ou descansando". Como a criança é pura imitação, sempre deito junto, e depois que aquele silêncio chega, levanto-me e vou "acordando" uma a uma. Mas hoje demorei um pouquinho mais. Fiquei deitada mais o que fico normalmente. É que estava lá, deitada, e depois de alguns minutinhos sinto um afaguinho. Era uma de minhas alunas chegando como um gatinho e deitando sob meu peito. E depois, chegou outra, e deitou-se em meu braço. E aí fecharam os olhos. E nós fechamos. Fez-se um silêncio, e o tempo se perdeu. Este que corre atrás de mim incessantemente, de repente, perdeu-se... As duas alí, mergulhadas em acolhimento e tranquilidade, me fizeram a Professora, Mulher, Profissional, Mãe, mais completa e grata neste mundo. Estes dias, fazendo um trabalho terapêutico com outro aluno, que envolvia uma brincadeira e um teatrinho especialmente para ele, sou surpreendida com beijinho repentino. Um aluno que não costuma dar beijos e abraços. Mas foi um ato tão volitivo, tão rápido, que saltou-lhe de sua boquinha um beijo e logo ele se corou todo, riu e tentou se esconder.
Trabalhar com crianças de 3 a 6 anos, numa Pedagogia que oferece um ambiente sagrado para o Ser Criança e para o floreSer, é ter a oportunidade diária de purificar-se.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Sítio Vale das Cabras

Neste final de semana até o Sol brilhou diferente!
Depois de dois dias chuvosos,
as plantas dançaram ao som do vento
saudando a água benta que caiu!
E nestes solos tão férteis, tão abençoados,
ideias e sonhos foram semeados...
Podem chegar, que num porvir nada distante
Todos poderão participar desta colheita:

Brota, no sítio, a educação ambiental sensível,
artística, crítica, viva!
Sejam bem-vindos!