segunda-feira, 5 de junho de 2017

Trabalhar (se)


Destas coisas que são indescritíveis mas, de tanta profundidade, fazemos tanta questão em tentar compartilhar: Todas as manhãs, antes do lanche das crianças, fazemos uma roda rítmica que sempre termina com todos nós deitados, "dormindo ou descansando". Como a criança é pura imitação, sempre deito junto, e depois que aquele silêncio chega, levanto-me e vou "acordando" uma a uma. Mas hoje demorei um pouquinho mais. Fiquei deitada mais o que fico normalmente. É que estava lá, deitada, e depois de alguns minutinhos sinto um afaguinho. Era uma de minhas alunas chegando como um gatinho e deitando sob meu peito. E depois, chegou outra, e deitou-se em meu braço. E aí fecharam os olhos. E nós fechamos. Fez-se um silêncio, e o tempo se perdeu. Este que corre atrás de mim incessantemente, de repente, perdeu-se... As duas alí, mergulhadas em acolhimento e tranquilidade, me fizeram a Professora, Mulher, Profissional, Mãe, mais completa e grata neste mundo. Estes dias, fazendo um trabalho terapêutico com outro aluno, que envolvia uma brincadeira e um teatrinho especialmente para ele, sou surpreendida com beijinho repentino. Um aluno que não costuma dar beijos e abraços. Mas foi um ato tão volitivo, tão rápido, que saltou-lhe de sua boquinha um beijo e logo ele se corou todo, riu e tentou se esconder.
Trabalhar com crianças de 3 a 6 anos, numa Pedagogia que oferece um ambiente sagrado para o Ser Criança e para o floreSer, é ter a oportunidade diária de purificar-se.