segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Desafio do vento: abservar! Brinquemos!!!

Faz tempo que tenho me atentado ao abservar a vida! Aos atentos e apegados aos erros gramaticais, que talvez já tenham franzido a sobrancelha na primeira frase deste pequeno desabafo, vamos lá!  Respire fundo e chegue junto. Estou a brincar com as palavras: abservar significa absorver ao observar.
É que tudo o que nos rodeia, nos permeia de algum modo. E é incrível como, regularmente, as impressões e experiências negativas nos causam tamanho impacto, anestesiando toda nossa corporalidade, nossos sentidos e nossa disposição para qualquer outra coisa que se apresente. E além do referido efeito anestésico, também o efeito papagaio: basta qualquer coisa sair de dentro do planejado, basta algo ruim nos acontecer, que pensamos na maldita experiência 4323 vezes no dia. Quando não ficamos repetindo para todas as pessoas em nosso redor, a fim de justificar nosso estresse naquele dia, nosso mal-humor, a falta de sensibilidade, dentre outros tantos elementos que todos nós sabemos bem!
Pois foi aí que o vento veio, ligeiramente, e começou a soprar em meu ouvido num tom bem desafiador: "vocês, adultos, são profundamente miseráveis! são lobos que só tem olhos grandes para o que querem ver, só tem ouvidos para o que querem ouvir e, no final, querem mesmo é comer criancinhas!"
A princípio, não entendi bem. Que terrível pensar assim! Eu jamais pensei em comer criancinhas! E poxa, eu, miserável?! Eu que busco, diariamente, construir um mundo melhor?
Foi então que passei a observar a mim e aos adultos que me rodeiam, e sem delongas, compreendi!
Nós, adultos, ao nos deixarmos ser anestesiados e agirmos feito papagaios frente as dificuldades e negatividades da vida, alimentamos este lobo faminto que existe dentro de nós. Matamos nossa criança interior que, se saudável e em liberdade, certamente muito nos ensinaria sobre resiliência e superação. Enquanto professora, tenho o privilégio de acompanhar de perto a essência que rege a criança em seu desenvolvimento: a vontade de brincar e brincar em qualquer circunstância; o desejo inato pelo que é belo e, por fim, o que se tem de mais fantástico nas crianças: a inigualável habilidade de deixarem o que não compete ao brincar e ao belo fluir para bem longe de suas vidas!
Como esta reflexão toda fez muito sentido na minha vida e me ajudou a desembaçar as lentes de meu óculos, e limpar a cera de meu ouvido, preciso exemplificar pra deixar assim, o mais claro possível pra quem esteja lendo:observem uma criança bem novinha, por volta dos 3, 4 anos de idade, brincando com os amiguinhos num parque. Se de repente alguma se machuca, abre-se o berreiro. Mas aquele choro, logo que acolhido e vivido, rapidamente passa. A criança parece se esquecer de tal machucado e pronto, já volta para a brincadeira, lembrando-se dele em raros momentos nos dias que correrão junto dele.
Outro exemplo muito comum na escola são os momentos de conflito pessoal. Um amigo que chateia o outro, aquele que por ventura deixa escapulir um empurrão e a outra colega cai! Sim, claro que são momentos delicados e inTensos. Mas vivido o conflito, e as vezes tão ligeiro quanto nós adultos não conseguimos mais acompanhar, já estão lá, brincando novamente, com se nada tivesse acontecido.
E assim as crianças vivem num pleno estado de brincadeira e recomposição. E é isso que sinto minha alma implorando: alimentemos nossa criança interior! Já são muitos que deram ao lobo sua criança interior e, com efeito, vemos para todo lado adultos cansados, insatisfeitos, reclamões, anestesiados...
E depois de alinhavar todos estes pensamentos, eis que o vento volta a sussurar no meu ouvido: "muito bem, muito bem! é chegada a hora de abservar! o desafio está dado: diariamente, escolher uma bela observação para absorver e compartilhar".
Desafio dado, desafio aceito: em primeiro lugar, é preciso negar a anestesia do que é negativo, pois que anestesiados, deixamos de perceber o que o mundo nos apresenta. Para isso, pequenas doses de observação do que permeia o belo e o bom. Precisamos nos obrigar a encontrar e compartilhar o que de bom, belo, gostoso nos é apresentado durante o dia.
No começo achei estranho. Parecia assim, bobagem. Tive medo, me questionei "ah, mas isso é, de fato, muita infantilidade". Como se infatilidade significasse imaturidade. Como se as crianças, nos exemplos mencionados aqui atrás, não nos dessem um grande show de maturidade, comparado nossa incrível maestria em ficar reclamando, lamentando, se arrastando pelos dias.
Felizmente, a persistência é uma das minhas mais fortes qualidades. E nesta brincadeira, proposta pelo vento, provocada pelo tempo e provada pelos meus sentidos, senti-me transformAr. Tenho respirado moléculas de admiração e encantamento. E expirado gratidão e esperança. Na prática diária de observar o que se apresenta de bom e belo, o que no começo parecia difícil e vergonhoso, virou uma caderneta aérea: passeando por ai, descobri quanto tesouro e quanto alimento o Universo nos disponibiliza diariamente. E assim vou anotando, absorvendo. O papagaio também se alimenta e passa a repetir, agora num tom contagiante, todas as belezuras descobertas, levando o lobo a um profundo estado de sono e aos demais humanos viventes, o convite para entrarem nesta brincadeira e aceitarem o desafio.
E assim, me despeço. Saúdo a criança interior que existe dentro de cada um de vocês! Que vocês possam acordá-la afim de que elas os motivem a tal brincadeira! E que vocês possam compartilhar esta incrível experiência comigo e com o mundo!
Podemos trocar partilhas diariamente, semanalmente, mensalmente. O importante é, de vez em quantinho, e quando mais puder, estejamos acordados e despertos, sem qualquer efeito anestésico!

Sintam-se abraçados como me senti hoje, ao passar por uma árvore cheia de flores rosinhas, cujas flores pareciam pequenas rosas desabrochando, de cheiro tão doce, mas tão doce, que me fez lembrar chocolate! Não sei como se chama tal árvore (assim que descobrir, farei questão de compartilhar), mas por enquanto eu a apelidei de Arvonita Docerosa! A árvore mais bonita, doce e cheirosa da rua!